Reunião
Este ano tentei usar a mesma desculpa do ano passado:
- Não posso ir, tenho aula na faculdade.
Mas dessa vez houve a réplica que eu não esperava:
- Nós vamos marcar então para um dia em que você possa ir.
Aí não teve como escapar, né? E aos poucos fui aceitando a idéia de ter que ir à reunião de condomínio aqui do meu prédio, mas continuei odiando-a com a mesma intensidade.
Afinal de contas, o que há a se discutir? São só quatro os apartamentos; não temos elevador, e quase não temos área comum; não há empregados do condomínio; alguém já paga a conta de eletricidade relativa à iluminação e caleifação dos corredores e escadas, e cobra dos outros sua justa parte. Eu já queria dar um cheque e acabar com isso, sem ter que fazer social, sorrir, ou fazer de conta que sou simpático.
Mas daí fui lá descobrir. Obviamente que o vizinho tinha me falado o horário errado, e eu sou o primeiro a chegar na casa dele, com meia hora de antecedência. É importante ressaltar que nunca cruzo com nenhuma dessas pessoas, então nem a cara deles eu conhecia quase. E daí começa aquele papinho de elevador: o que você acha da área, o que você faz da vida... Dois minutos depois o silêncio desagradável motiva o meu anfitrião a ir buscar os outros vizinhos, e eu respiro aliviado.
A única emoção em pauta foi que eles queriam pintar as paredes das escadas. Com um custo previsto de $1200. Eu quase engasguei no meu copo d'água, e o vizinho que veio com a idéia já veio se explicando: a pintura atual está feia, é de baixa qualidade; mão-de-obra e material ficariam em $600 cada. Ainda não consegui desengasgar.
Trezentas pilas para cada um para trocar o branco das escadas por outro branco mais chique? Tive que me posicionar, e foi o único momento em que falei, então as pessoas me ouviram: eu acho muito caro, e prefiro esperar um pouco para fazermos esse investimento! De onde essas pessoas acham que eu posso tirar tanta grana pra tal inutilidade? Ficou combinado então que na primavera nós voltaríamos a nos falar. Preciso achar outra desculpa até lá, ou então vender o meu apartamento.
No final das contas não foi tão ruim assim, as pessoas se esforçavam até mais do que eu para serem simpáticas, fiquei até impressionado. E na hora de ir embora, um outro cara estava mais ansioso do que eu para sair de lá, e já estava abrindo na porta e mandando um 'bonne soirée' pra todo mundo antes mesmo de eu poder cumprimentar o anfitrião.
Até ano que vem, pensei baixo.