quarta-feira, 30 de julho de 2008

Queimado

Nesse final de semana inventamos de fazer um almoço para o pessoal da nossa equipe no trabalho, e alguém teve a má idéia de que os estrangeiros deveriam fazer comidas típicas. Os dois brasileiros, numa idéia que inicialmente pareceu ainda pior do que a do almoço, resolvemos fazer feijoada e brigadeiro, suficientemente bem classificados na nossa concepção de brasilidade.
A feijoada, descreditada por todos desde o começo, demorou mas não deu trabalho. Tudo graças à Luana, que sabia exatamente onde comprar as carnes necessárias lá no bairro português. O feijão preto e farofa originalmente contrabandeados na última viagem do Rodrigo também vieram a calhar. Sem panela de pressão, o negócio ficou lá cozinhando e borbulhando por umas 12 horas, e enquanto isso a gente foi botando o papo em dia e o brigadeiro em curso.
Brigadeiro é à prova de falhas, nem o leite consensado genérico que pudemos encontrar tirou a nossa confiança. No meio daquela falação toda, aquela ciranda para ninguém cansar muito na panela, numa das minhas primeiras participações, a colher tem um surto psicótico e resolve sair voando, espalhando pequenas porções de brigadeiro fervente no balcão, no fogão, no chão, na minha mão (que poético).
Pouco poéticas foram as palavras que eu proferi em seguida, em meio à emoção de todos, instintivamente com a mão na boca e tentando alcançar uma fonte de água gelada, mas o estrago já estava feito, e para ficar. Primeiro veio a maior bolha que eu tinha visto na vida, digna de protagonista de filme; ela eventualmente estourou, e sobrou uma península dermatológica, presa ao resto da queimadura por um lado, que ficava batendo ao vento e enquanto eu lavava as mãos; mas ela não durou muito tempo, e agora tenho só o buraco vermelho que enoja todos à minha volta.
Finalmente, a feijoada ficou muito muito boa. O brigadeiro, no entanto, nem tanto: meio açucarado, o granulado meio duro, nada de especial. Os locais ignorantes adoraram tudo, mas eu fiquei com o sentimento de que teria valido mais a pena me queimar na feijoada.

terça-feira, 22 de julho de 2008

56

Semana passada recebi uma ligação do meu banco:

"O senhor ultrapassou o limite no seu cartão de crédito."
"Ai meu Santo Cristo. Qual o tamanho do estrago?"
"56 centavos."
"???????"
"Não é muito, mas é que gostaríamos de avisar que caso pagamento algum seja feito suas próximas compras a crédito não serão aprovadas."
Talvez não pro banco, mas pra mim isso não valeria uma ligação. O pior disso tudo é que eles só me deram esse cartão de crédito porque eu concordei em deixar o valor do meu limite em uma aplicação no banco, a que eu não tenho acesso, e que serve de segurança para eles caso eu dê o calote.
56 centavos. É foda.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Iniqüidade

Nas minhas andanças diárias pela Internet, estava lendo um experimento (versão em português) onde estavam estudando reações de aversão à iniqüidade em primatas: pares de macacos deviam fazer uma tarefa, e eram recompensados por ela com um pepino ou com uma uva. Quando os dois macacos recebiam a mesma recompensa pela mesma tarefa, eles continuavam a realizá-la sem problemas, mas quando um deles recebia uma uva e um outro um pepino, a coisa já começava a ficar desbalanceada. Assim como humanos, eles preferem o doce, e quem era preterido no prêmio parava de fazer o que dele se esperava.
No meu emprego começou a acontecer uma coisa parecida. Com os resultados do último ano fiscal, bônus e aumentos de salários foram distribuídos, e tudo isso gerou um bafafá monetário sobre salários e recompensas. Embora não sejamos autorizados a divulgar quanto recebemos, nas conversas em torno da máquina de café o assunto não é vetado, e nisso acabamos descobrindo o salário até de pessoas que nem conhecemos.
E daí é um pulo pra saber quem ganha uvas, e quem ganha pepinos. Eu, obviamente, faço parte do grupo que só recebe os referidos cucurbitáceos, e outros colegas na minha situação já começaram a procurar (e encontrar) quem esteja disposto a recompensá-los mais docemente.
Será que já é hora de eu pensar em pular para outros galhos?

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Imposto de Boas-Vindas

"Você não precisa se preocupar com esse imposto, e nem ir atrás dele para pagá-lo. Ele vai vir atrás de você."

Esse tinha sido o conselho do tabelião no dia da compra do meu apartamento, e ele se referia ao incômodo taxe de bienvenue, incidente sobre toda transferência de títulos de propriedade imobiliária, e de responsabilidade do comprador.
E o danado acabou por me achar, maldita eficiência do sistema. Quando abri a caixa de correio e vi o envelope pardo com o símbolo da prefeitura de Montréal, já sabia do que se tratava. Por mais acolhedora a cidade seja, eu não estava esperando uma cartinha à mão do prefeito me parabenizando pela compra.
E por falar nisso, de acolhedor esse imposto tem só o nome! Ele é, na verdade, um símbolo da prefeitura me dando boas vindas aos seus cofres, que espera ansiosamente as minhas contribuições ao longo do ano.
Finalmente criei coragem e rasguei o envelope, e mesmo já sabendo do tamanho do tombo, o impacto da queda ainda foi grande: quase o salário de um mês inteiro, pra ser pago de uma tacada só, sem fazer manha.
A corda está ficando apertada.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Medo(s) do escuro

Nessas semanas tá rolando na Concordia e na Cinemateca o tradicional festival de cinema Fantasia, que foca no "cinema do imaginário", ou seja, só coisa muito doida!
Fui com o Erick assistir Peur(s) du Noir, um filme francês de animação que na verdade é a junção de seis curtas de diferentes diretores. Só de ver o trailer eu já fiquei apaixonado e arrepiado, e o filme não deixou nada a desejar. Ele já não está mais em cartaz, mas coisa boa não deve faltar na programação, o que falta é companhia pra ir assistir esses filmes.

domingo, 13 de julho de 2008

De volta

Tanta coisa acontecendo no verão em Montréal, mais mudança para a casa nova, mais pessoas vindo visitar, mais pessoas novas aparecendo, mais um tempo fora do ar, com tudo se acalmando será que eu vou conseguir um tempinho pra voltar a escrever por aqui? Acho que até a minha mãe parou de ler este blog, o que não é um bom sinal, mas depois de tanto tempo de ausência eu nem posso culpá-la.
Fiquem ligados, muitos posts começados e mais idéias para compartilhar, em breve, neste mesmo local.