Entrevista
Mais tarde naquele mesmo dia, recebi um comentário em um dos meus posts, onde o tal autor do então já corrigido blog dizia querer me fazer uma proposição, e me deixou o seu telefone. Estranho o suficiente, ele me escreveu em português, mesmo que muito falho, o que me deixou com ainda mais uma pulga atrás de orelha e um comichão para ligar e ver do que se tratava.
Quando liguei, ele reconheceu meu nome, e se identificou como um colunista do jornal The Montréal Gazette, disse que já havia visitado o Brasil, e que ficou honrado com visitas brasileiras em seu site, e explicou que a proposta se tratava de uma entrevista que ele queria fazer comigo. Ao dizer que nunca havia lido a tal gazeta (o que ele achou MUITO estranho!!!), e indagar o motivo pelo qual os leitores do jornal se interessariam em algo que eu teria a dizer, ele tentou clarificar a minha desconfiança, e explicou que a coluna se tratava de uma 'home interview', onde o entrevistado recebe em sua casa o entrevistador, que lhe indaga sobre a localização do imóvel, a vizinhança, a decoração, a disposição dos móveis, a cor das paredes. Segundo ele, seus alvos semanais não são escolhidos com método algum, e até transeuntes nas ruas ele interpela para propor essa bobagem toda.
Meu ponto de interrogação imaginário só aumentou com a explicação, e minha mente passou rapidamente pela inevitável dúvida sobre a existência da vontade de alguém no mundo de ler essas coisas sobre um aleatório qualquer. E em um hiperlink mental fui imeditamente levado a imaginar como explicar qualquer um desses tópicos sobre um lugar onde não escolhi absolutamente coisa alguma, embora seja esta a minha casa, e onde eu me sinto em casa.
O poster da Playboy na entrada, o buraco na parede escondido por um lençol hippie, o teto do banheiro em estado deplorável, a porta da geladeira que precisa de uma ajudinha para se manter fechada, a mesa da copa em forma de amendoim, as cadeiras com o encosto faltando, o cantinho inacessível pela vassoura, as manchas na parede do meu quarto, tudo já estava aqui quando cheguei, e nada dessas coisas traz charme algum ao lugar, mas também não me incomodam, pois eu adoro o povo com quem eu moro, e que em momentos difíceis aqui só faltou que me carregassem nas costas. Mas como explicar isso para os leitores do jornal, e a pergunta que ainda me assola: quem se importa? Tive que recusar a proposta.
Embora se saiba que qualquer tipo de publicidade seja bom, achei que o meu refúgio do mundo exterior, e tudo que faz dele estranho e especial, não deveria ser tornado público.
Quando liguei, ele reconheceu meu nome, e se identificou como um colunista do jornal The Montréal Gazette, disse que já havia visitado o Brasil, e que ficou honrado com visitas brasileiras em seu site, e explicou que a proposta se tratava de uma entrevista que ele queria fazer comigo. Ao dizer que nunca havia lido a tal gazeta (o que ele achou MUITO estranho!!!), e indagar o motivo pelo qual os leitores do jornal se interessariam em algo que eu teria a dizer, ele tentou clarificar a minha desconfiança, e explicou que a coluna se tratava de uma 'home interview', onde o entrevistado recebe em sua casa o entrevistador, que lhe indaga sobre a localização do imóvel, a vizinhança, a decoração, a disposição dos móveis, a cor das paredes. Segundo ele, seus alvos semanais não são escolhidos com método algum, e até transeuntes nas ruas ele interpela para propor essa bobagem toda.
Meu ponto de interrogação imaginário só aumentou com a explicação, e minha mente passou rapidamente pela inevitável dúvida sobre a existência da vontade de alguém no mundo de ler essas coisas sobre um aleatório qualquer. E em um hiperlink mental fui imeditamente levado a imaginar como explicar qualquer um desses tópicos sobre um lugar onde não escolhi absolutamente coisa alguma, embora seja esta a minha casa, e onde eu me sinto em casa.
O poster da Playboy na entrada, o buraco na parede escondido por um lençol hippie, o teto do banheiro em estado deplorável, a porta da geladeira que precisa de uma ajudinha para se manter fechada, a mesa da copa em forma de amendoim, as cadeiras com o encosto faltando, o cantinho inacessível pela vassoura, as manchas na parede do meu quarto, tudo já estava aqui quando cheguei, e nada dessas coisas traz charme algum ao lugar, mas também não me incomodam, pois eu adoro o povo com quem eu moro, e que em momentos difíceis aqui só faltou que me carregassem nas costas. Mas como explicar isso para os leitores do jornal, e a pergunta que ainda me assola: quem se importa? Tive que recusar a proposta.
Embora se saiba que qualquer tipo de publicidade seja bom, achei que o meu refúgio do mundo exterior, e tudo que faz dele estranho e especial, não deveria ser tornado público.
3 comentários:
Está certíssimo Daniel.. o lugar de refúgio, descanso, onde recarregamos as energias e temos momentos mto particulares nem sempre deve ser aberto ao público. Bjo aqui do Brasil pra vc
Ops.. te chamei de Daniel.... qdo vc se chama Danilo, sorry!
Eu lia o Montreal Gazette quando morava em Montreal. É o maior jornal em inglês da cidade... mas não lembro dessa coluna.
acho que vc fez bem...
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