Jornada - Parte 2
"O senhor não vai ter problemas com a sua conexão em Miami" - me garantiu a funcionária da American Airlines, após me explicar que meu vôo sairia de São Paulo com uma hora de atraso. E eu até acreditei, pois ainda me sobrariam duas horas lá.
O vôo não foi problemático, eu assisti a três filmes no avião pois queria me manter acordado para chegar em casa cansado, e já cair na cama para acordar no dia seguinte pronto para o meu primeiro dia de trabalho do ano. O controle de passaportes, que estava me deixando mais inseguro, foi rápido, e eu teria tempo suficiente para pegar a minha mala e andar tranqüilamente até o outro portão onde o avião para Montréal estaria me esperando.
Nas esteiras rolantes para pegar a bagagem, me parecia que o mundo inteiro tinha aterrissado em Miami naquele momento. E apesar da muvuca, eu fui vendo as pessoas que estavam comigo no vôo pegarem as suas malas e desaparecerem para seus destinos. Quando começaram a aparecer na esteira as bagagens de um outro vôo, eu comecei a ficar preocupado, e na minha falsa simpatia, já crente que meu mochilão havia sido enviado para a Arábia Saudita por engano, fui tentando descobrir na multidão se eu havia sido o único privado de seus pertences.
E no desespero de pessoas gritando em espanhol, crianças chorando, gente indo e vindo, malas e mais malas chegando e nada da minha, descobri que havia pelo menos uns 10 outros azarados com o mesmo problema. Os funcionários da companhia aérea e do aeroporto demoraram umas duas horas para mudar o discurso de 'está tudo correto, é só aguardar' para 'vamos verificar o que pode ter acontecido', e foi só depois que meu avião para Montréal já tinha partido que recebemos a notícia que as malas haviam sido 'esquecidas' dentro da aeronave.
Nisso eu já queria estrangular uma meia dúzia ali, mas a pessoa que escuta o xingo nunca é realmente culpada, e para não piorar a situação, resolvi escutar os conselhos de mamãe que diz quem quem grita perde a razão, e fui sorrindo amarelamente pra todo mundo até que algo fosse feito para remediar a merda toda. Segundo a mesma mamãe, paciência é uma virtude que se adquire com prática, e eu fui praticando. Eu já estava imaginando ter que pegar mais uns dois vôos para só chegar em Montréal no meio da madrugada, mas eu ainda estava sendo otimista demais: eu só sairia de Miami no dia seguinte mesmo.
Fui mandado para um hotel, que ficaria a 5 minutos do aeroporto, onde eu poderia jantar, e voltaria no dia seguinte para pegar o primeiro vôo para casa às 7:30 da manhã. Após meia hora para chegar no hotel, descobri que havíamos sido mandados para o meio da minha visão preconceituosa dos Estados Unidos: uma rodovia super larga, com vazios enormes entre um eventual shopping, um ou outro hotel e um posto de gasolina. Também fui notificado de que o restaurante do hotel já estava fechado àquela hora, mas que eu poderia comer em um fast food a algumas gigantes quadras de lá. E que para chegar no aeroporto a tempo de embarcar, eu teria que acordar antes do café da manhã ser servido, e sair bem antes da primeira van disponível para levar hóspedes até o aeroporto.
Mais um suspiro profundo e um sorriso falso, e uma ligação para a companhia aérea me trocar de vôo mais uma vez. Meu chefe já havia recebido um email de que eu chegaria atrasado, então acabei me conformando que eu simplesmente não conseguiria chegar a tempo para trabalhar, e pedi para ser posto no vôo que sairia ao meio dia.
Eu já estava tão cansado que não sabia nem mais soletrar meu nome, e com o estômago aos urros, inconformado com o lanchinho pobreta que nos deram de janta no avião. No dia mais frio dos últimos muitos anos na costa leste norte-americana, fui andando contra o vento e congelando à temperatura pouco abaixo de zero com a única blusa de frio que eu havia empacotado, sobre uma camiseta regata. Passei reto pelo McDonald's, e acabei comendo um sanduíche num restaurantezinho desconhecido, mas que, graças ao bom céu, vendia cerveja, e onde encontrei um outro coitado na minha situação, com quem dividi as pendengas da vida e boas risadas da história toda.
O vôo para Montréal foi tranquilo, mas o aeroporto estava um inferno, nunca vi tanta gente nem tanta desorganização. E chegando em Montréal, outra multidão que me fez demorar uma hora e meia só para o oficial da imigração checar o meu cartão de residente e me desejar Feliz Ano Novo em português. E eu não sabia mais nem em que ano estávamos.
Fim das férias, começo do ano, a última gota da minha sanidade. Acho que cheguei mais cansado do que estava antes de partir!
O vôo não foi problemático, eu assisti a três filmes no avião pois queria me manter acordado para chegar em casa cansado, e já cair na cama para acordar no dia seguinte pronto para o meu primeiro dia de trabalho do ano. O controle de passaportes, que estava me deixando mais inseguro, foi rápido, e eu teria tempo suficiente para pegar a minha mala e andar tranqüilamente até o outro portão onde o avião para Montréal estaria me esperando.
Nas esteiras rolantes para pegar a bagagem, me parecia que o mundo inteiro tinha aterrissado em Miami naquele momento. E apesar da muvuca, eu fui vendo as pessoas que estavam comigo no vôo pegarem as suas malas e desaparecerem para seus destinos. Quando começaram a aparecer na esteira as bagagens de um outro vôo, eu comecei a ficar preocupado, e na minha falsa simpatia, já crente que meu mochilão havia sido enviado para a Arábia Saudita por engano, fui tentando descobrir na multidão se eu havia sido o único privado de seus pertences.
E no desespero de pessoas gritando em espanhol, crianças chorando, gente indo e vindo, malas e mais malas chegando e nada da minha, descobri que havia pelo menos uns 10 outros azarados com o mesmo problema. Os funcionários da companhia aérea e do aeroporto demoraram umas duas horas para mudar o discurso de 'está tudo correto, é só aguardar' para 'vamos verificar o que pode ter acontecido', e foi só depois que meu avião para Montréal já tinha partido que recebemos a notícia que as malas haviam sido 'esquecidas' dentro da aeronave.
Nisso eu já queria estrangular uma meia dúzia ali, mas a pessoa que escuta o xingo nunca é realmente culpada, e para não piorar a situação, resolvi escutar os conselhos de mamãe que diz quem quem grita perde a razão, e fui sorrindo amarelamente pra todo mundo até que algo fosse feito para remediar a merda toda. Segundo a mesma mamãe, paciência é uma virtude que se adquire com prática, e eu fui praticando. Eu já estava imaginando ter que pegar mais uns dois vôos para só chegar em Montréal no meio da madrugada, mas eu ainda estava sendo otimista demais: eu só sairia de Miami no dia seguinte mesmo.
Fui mandado para um hotel, que ficaria a 5 minutos do aeroporto, onde eu poderia jantar, e voltaria no dia seguinte para pegar o primeiro vôo para casa às 7:30 da manhã. Após meia hora para chegar no hotel, descobri que havíamos sido mandados para o meio da minha visão preconceituosa dos Estados Unidos: uma rodovia super larga, com vazios enormes entre um eventual shopping, um ou outro hotel e um posto de gasolina. Também fui notificado de que o restaurante do hotel já estava fechado àquela hora, mas que eu poderia comer em um fast food a algumas gigantes quadras de lá. E que para chegar no aeroporto a tempo de embarcar, eu teria que acordar antes do café da manhã ser servido, e sair bem antes da primeira van disponível para levar hóspedes até o aeroporto.
Mais um suspiro profundo e um sorriso falso, e uma ligação para a companhia aérea me trocar de vôo mais uma vez. Meu chefe já havia recebido um email de que eu chegaria atrasado, então acabei me conformando que eu simplesmente não conseguiria chegar a tempo para trabalhar, e pedi para ser posto no vôo que sairia ao meio dia.
Eu já estava tão cansado que não sabia nem mais soletrar meu nome, e com o estômago aos urros, inconformado com o lanchinho pobreta que nos deram de janta no avião. No dia mais frio dos últimos muitos anos na costa leste norte-americana, fui andando contra o vento e congelando à temperatura pouco abaixo de zero com a única blusa de frio que eu havia empacotado, sobre uma camiseta regata. Passei reto pelo McDonald's, e acabei comendo um sanduíche num restaurantezinho desconhecido, mas que, graças ao bom céu, vendia cerveja, e onde encontrei um outro coitado na minha situação, com quem dividi as pendengas da vida e boas risadas da história toda.
O vôo para Montréal foi tranquilo, mas o aeroporto estava um inferno, nunca vi tanta gente nem tanta desorganização. E chegando em Montréal, outra multidão que me fez demorar uma hora e meia só para o oficial da imigração checar o meu cartão de residente e me desejar Feliz Ano Novo em português. E eu não sabia mais nem em que ano estávamos.
Fim das férias, começo do ano, a última gota da minha sanidade. Acho que cheguei mais cansado do que estava antes de partir!

Um comentário:
Oi Danilo,
Que aventura hein ? Apesar de todos os problemas, tudo acabou bem. :-)
Um abraço
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