terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Ano Novo

A vida é igual em toda a parte e o que é necessário é a gente ser a gente.
Clarice Lispector

Voltar pra 'casa' depois de ter passado férias em 'casa' mexeu um pouco com os meus miolos, e chegando em Montréal eu tive uma sensação forte de perda de identidade. Mas passou rápido, ao contrário da que experimentei ao chegar aqui pela primeira vez, há pouco mais de um ano. Ainda assim, foi difícil colocar em ordem na minha cabeça a qual lugar pertenço, o que eu estou deixando pra trás, e para quê estou retornando.
Precisei do retorno da vida à normalidade para me tirar essas idéias bestas da cabeça. A volta ao trabalho, à faculdade, à academia. A troca de presentes de Natal com o pessoal do apartamento, seguido do longo papo em torno da mesa da cozinha. O vento frio, a chuvinha calma, a enxurrada escura da neve derretendo. A neblina em que se afoga a cidade por causa da humidade que chega do nada depois de fazer muito frio. O barulho que o metrô faz ao sair de algumas estações, que dizem por aí ser as três primeiras notas de alguma obra erudita. O cheiro do aquecimento em casa, e dos lençóis recém-lavados, e do ar de fora que entra rápido pela fresta da janela. Os causos de férias contados e ouvidos no trabalho. As boas vindas de todos, de alguns mais tímidas, de outros mais espontâneas, mas sempre sinceras. E tudo que se faz automaticamente e se repete dia após dia, e nunca é levado em conta
Minha vida é aqui, minha vida está aqui, e é aqui onde me sinto em casa. O horizonte que se apresenta na minha cabeça quando penso no meu futuro, embora minha míope visão do mundo nunca tenha me permitido ver muito longe, é o céu de Montréal. E sair daqui não me foi suficiente para perceber, eu precisei é voltar para cá para entender tudo isso.

Pequena, e nem tão rara assim, demonstração de afeto do povo do trabalho, com a minha volta.

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