Caos
O caos já estava anunciado para esta manhã havia alguns dias, entre 30 e 35 centímetros de neve nos aguardariam no caminho pro trabalho, e com ela a garantia de dor de cabeça para muita gente. Nada fora do normal, já é tempo de tempestade, mas o que me fez levantar as sobrancelhas foi a notícia no telejornal matinal para o qual eu acordo diariamente que muitas escolas estariam fechadas.
Lembrei imediatamente da minha primeira estadia no Canadá, há mais de década, no norte da Colúmbia Britânica, em que as escolas não fechavam por conta da neve, mas sim por conta da temperatura: se às 7 da matina o mercúrio indicasse -35ºC ou menos, não haveria aulas. Lembro que eu acordava de manhã e rezava para que alguém batesse na minha porta para dar a boa notícia do dia de folga. Mas às vezes a reza não era suficiente, ou o Santo não fazia bem o cálculo da conversão da temperatura, e nos mandava -34ºC; aí, podia ter choro ou vela ou até congelamento da ponta dos dedos, era a longa caminhada branca a passos cautelosos até o ponto do ônibus que parecia nunca chegar.
E ainda na cama, vagarosamente, com o olho direito aberto e o esquerdo ainda dormindo, tentei entender a lógica de se fechar as escolas com o tempo ruim. Pensei que, como se diz na minha terra, seria uma judiação deixar as crianças andarem pra escola num tempo destes. Mas é só neve, e não estava tão frio, e é o mau humor da vida adulta que não nos deixa apreciar o espetáculo, a molecada faz a festa na rua num tempo destes. Talvez o ônibus que leva as crianças tenha dificuldades em atravessar a neve, calculei em seguida, mas é justamente o contrário: o transporte público continua numa boa, pontual como sempre, os motoristas pisando fundo como se nada houvesse de diferente. Perigoso e complicado, isso sim, são os pais tirarem os carros das garagens e se aventurarem para levar os filhos à aula, mas eles, pais, não teriam que ir trabalhar de qualquer maneira? E pior, como se faz para ir trabalhar com filho pequeno que não vai pra escola? Se é pra fechar escola, que se decrete ponto facultativo então, oras.
O segundo toque do despertador-celular me tira do transe, e amaldiçoando as circunstâncias que não me permitem tirar o dia pra descansar, fui marchando para o trabalho, tudo igual sempre, e lá vejo que um bando de gente não foi trabalhar. Muito provavelmente os pais cujos filhos foram presenteados com o dia em casa, e que herdaram o mesmo direito. Em tempos de baixa natalidade, ninguém nem imagina levantar a palavra contra pessoa qualquer com filho pequeno. Há males (leia-se: a tempestade, não os filhos) que vêm para bens.
Abaixo, a clássica foto do carro enterrado, com a cereja sendo o recado para o coitado do dono de algum engraçadinho que passou por ali antes de mim: tenha um bom dia!
Lembrei imediatamente da minha primeira estadia no Canadá, há mais de década, no norte da Colúmbia Britânica, em que as escolas não fechavam por conta da neve, mas sim por conta da temperatura: se às 7 da matina o mercúrio indicasse -35ºC ou menos, não haveria aulas. Lembro que eu acordava de manhã e rezava para que alguém batesse na minha porta para dar a boa notícia do dia de folga. Mas às vezes a reza não era suficiente, ou o Santo não fazia bem o cálculo da conversão da temperatura, e nos mandava -34ºC; aí, podia ter choro ou vela ou até congelamento da ponta dos dedos, era a longa caminhada branca a passos cautelosos até o ponto do ônibus que parecia nunca chegar.
E ainda na cama, vagarosamente, com o olho direito aberto e o esquerdo ainda dormindo, tentei entender a lógica de se fechar as escolas com o tempo ruim. Pensei que, como se diz na minha terra, seria uma judiação deixar as crianças andarem pra escola num tempo destes. Mas é só neve, e não estava tão frio, e é o mau humor da vida adulta que não nos deixa apreciar o espetáculo, a molecada faz a festa na rua num tempo destes. Talvez o ônibus que leva as crianças tenha dificuldades em atravessar a neve, calculei em seguida, mas é justamente o contrário: o transporte público continua numa boa, pontual como sempre, os motoristas pisando fundo como se nada houvesse de diferente. Perigoso e complicado, isso sim, são os pais tirarem os carros das garagens e se aventurarem para levar os filhos à aula, mas eles, pais, não teriam que ir trabalhar de qualquer maneira? E pior, como se faz para ir trabalhar com filho pequeno que não vai pra escola? Se é pra fechar escola, que se decrete ponto facultativo então, oras.
O segundo toque do despertador-celular me tira do transe, e amaldiçoando as circunstâncias que não me permitem tirar o dia pra descansar, fui marchando para o trabalho, tudo igual sempre, e lá vejo que um bando de gente não foi trabalhar. Muito provavelmente os pais cujos filhos foram presenteados com o dia em casa, e que herdaram o mesmo direito. Em tempos de baixa natalidade, ninguém nem imagina levantar a palavra contra pessoa qualquer com filho pequeno. Há males (leia-se: a tempestade, não os filhos) que vêm para bens.
Abaixo, a clássica foto do carro enterrado, com a cereja sendo o recado para o coitado do dono de algum engraçadinho que passou por ali antes de mim: tenha um bom dia!
2 comentários:
Ah, mas o snow day é quase uma tradição canadense ;) é quando as crianças não têm aula por causa da neve e vão brincar no parque...
Ah, aí faz frio em dezembro? Já não lembrava mais disso :oP
Aqui em Brasília no tempo de seca (que não é agora) as aulas também são canceladas se a umidade é menos de 15%. Daí a molecada aproveita para jogar bola na rua. :)
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